quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Quanto vale este resíduo?

Uma importante visão sobre o lixo eletrônico tem mudado a postura e a forma como é feita a gestão de resíduos em algumas empresas: o material pode significar oportunidades de negócios sustentáveis e vantagem competitiva. Empresas de prestação de serviços tecnológicos avançados, como a Sinctronics e a Terracycle, são exemplos de um novo caminho, impulsionado pelas exigências da Política Nacional de Resíduos Sólidos (instituída pela Lei 12.305/2010).
Tema da segunda reportagem da série especial sobre resíduos sólidos, o setor é um dos que precisa dar conta do desafio da logística reversa. Atualmente, para cumprir a exigência, as empresas que lidam com equipamentos eletrônicos precisam se desdobrar e ir além dos programas de reciclagem. O caminho pode estar no desenvolvimento de projetos em cooperação com associações, ONGs e outras empresas, principalmente as desenvolvedoras de novas tecnologias.

Contexto brasileiro
Enquanto a logística reversa proposta pela PNRS exige a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial para reaproveitamento ou destinação final adequada, o Brasil se destaca pela quantidade de lixo eletrônico que gera: meio quilo por habitante/ano apenas de computadores. Em todo o mundo, são gerados 40 milhões de toneladas de lixo eletrônico por ano. Encabeçam a lista dos sujões mundiais os EUA e a própria China. Os dados são da pesquisa Recycling – from e-waste to resources, publicada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2012, feita a partir de dados de 2009.
A conta pode ser ainda mais assustadora: o lixo eletrônico cresce três vezes mais que lixo convencional, segundo a ONU, e a situação é ainda mais preocupante nos países emergentes, como o Brasil, onde grande parte desse volume não tem destinação adequada. O perigo está principalmente em resíduos que contém metais, como chumbo (presente em televisores e computadores) e mercúrio, que acarretam sérios riscos à saúde.
No lixo brasileiro
  • 96,8 toneladas computadores
     
  • 115 mil toneladas de geladeiras
     
  • 17,2 mil toneladas de impressoras
     
  • 2,2 mil toneladas de celulares
Fonte: “Recycling – from e-waste to resources”, da ONU
Para onde vai tudo isso? São Paulo tem o maior espaço público de descarte e reuso de lixo eletrônico da América Latina, o Centro de Descarte de Reuso de Resíduos de Informática (Cedir), instalado numa área de 400 metros quadrados na Universidade de São Paulo (USP), em funcionamento desde 2009. O CEDIR recebe até 20 toneladas de resíduos por mês (equivalente a cerca de mil equipamentos), muitos deles com presença de metal mesclado a diversos tipos de materiais, como plásticos e outros componentes de alto valor de mercado. Um volume pequeno comparado as 150 mil toneladas de resíduos produzidos no Brasil segundo o Instituto de Química da UFRJ.
Os aparelhos são reformados e encaminhados para projetos sociais cadastrados, que devolvem os materiais ao CEDIR ao final da sua vida útil. Neste ponto eles são desmontados e as peças encaminhadas para recicladores ou utilizadas para reposição em outras máquinas. Trata-se de um processo simples, mas extremamente eficiente.
Outro projeto de parceria foi feito pela Dell em 2002, que passou a doar equipamentos usados e que seriam descartados para a Fundação Pensamento Digital (RS), contribuindo para o seu programa de inclusão digital. Essas e outras iniciativas foram citadas no mais recente estudo sobre o assunto (Logística Reversa de Equipamentos Eletroeletrônicos), da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
Também atuam em cooperação o Grupo Pão de Açúcar, a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe) e a Prefeitura de São Paulo, que instalaram 12 pontos de coleta em diversas regiões da capital paulista. A ação faz parte da meta de ampliar os locais de descarte para 20 nas cidades-sede da Copa do Mundo até 2014. Outras empresas interessadas também podem estabelecer parcerias com a Abrelpe, cuja campanha de coleta de lixo eletrônico pode ser acompanhada pelo site.
E-commerce de resíduos
Por meio de plataforma virtual de negociação oferecida gratuitamente pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) para as empresas, o Sistema Integrado de Bolsas de Resíduos atende diversos setores da indústria em oito estados brasileiros, por meio das afiliadas da CNI, oferecendo não apenas o ambiente virtual, mas apoio na precificação de recicláveis e outros serviços.
O sistema tem 6.854 empresas cadastradas que negociam resíduos (oferecendo ou procurando), uma alternativa para substituir matérias-primas de maneira viável. “Implementamos o sistema em Minas Gerais em 2004, para fortalecer o setor industrial com o incentivo à formação de parcerias para a busca de soluções ambientais, aumentando a competitividade e estimulando o desenvolvimento sustentável”, afirma Cláudia Stancioli, analista da gerência de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Por mês, a bolsa mineira recebe 9.500 acessos mensais de interessados em comprar ou vender resíduos. Dentre eles, os de melhor negociação são os recicláveis – papel, plástico e metais.
Além da reciclagem, os resíduos podem ter outras duas opções de destinação: reutilização e upcycling (resíduo pré-consumo, produzido pela própria indústria e aproveitado para se tornar outro produto da mesma forma e material). Essas opções são oferecidas pela TerraCycle para dar solução aos resíduos de difícil reciclabilidade. “Avaliamos qualquer tipo de resíduo, tanto em seus aspectos materiais, formato e propósito original e, com base nesses parâmetros, estudamos a solução que combine otimização e menor impacto ambiental, para então determinar sua viabilidade econômica”, descreve Bruno Massote, Gerente Geral da Terracycle Brasil.
Um exemplo foi a parceria com a rede de lojas FastShop, que permitiu a coleta de resíduos de informática. No exterior, a TerraCycle conta com inúmeros projetos colaborativos – chamados de “brigadas” – e o principal item contemplado foi aparelho celular. Desde o início do trabalho foram coletados 2,4 milhões aparelhos em mais de 8 mil postos.
Oportunidade de negócio
O caminho para a gestão adequada de resíduos passa pela aplicação e identificação de modelos de negócios que alavanquem oportunidades de reciclagem e novos empregos. Por outro lado, deficiências nos métodos de coleta e nas tecnologias de reciclagem dificultam a busca de soluções, segundo conclusão do Workshop de Capacitação em Gestão Ambientalmente Responsável para Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos, organizado pela União Internacional de Telecomunicações (UIT/ONU) e divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), em março.
Quem já oferece soluções atreladas ao ciclo de vida de eletroeletrônicos e fomenta a sustentabilidade como diferencial competitivo é o centro de inovações Sinctronics. Além de oferecer a gestão da reciclagem de acordo com requisitos legais e transformar resíduos em matéria-prima certificada, a Sinctronics desenvolve projetos nos quais a “reciclagem e sustentabilidade passam a ser uma vantagem competitiva do cliente”, explica Carlos Ohde, Gerente Nacional da Sinctronics.
A empresa criou o Recycling Innovation Center, um serviço de logística reversa para itens de áudio e vídeo, computadores e seus acessórios e telefones celulares. Em um processo integrado, a empresa também promove a reciclagem e a destinação dos componentes para a fabricação de novos produtos. A vantagem para as empresas, além do processo integrado, é a possibilidade de rastreabilidade por radiofrequência que monitora o resíduo desde a sua chegada ao centro de reciclagem, passando pelo processo de descaracterização até a nova destinação desse material. Isso garante produtividade, eficiência e segurança do serviço.
Carlos Ohde detalha como a empresa pode dar um salto tecnológico e se tornar mais competitiva a partir da gestão de seus resíduos: “oferecemos soluções de gestão de logística reversa de qualquer produto eletroeletrônico brasileiro, rastreando todo o processo e com novas tecnologias sustentáveis, hoje essenciais para que a empresa participe de novos negócios”.
A HP – primeira empresa a reciclar cartuchos de impressoras – e a Flextronics (serviços de gerenciamento, design e outros recursos integrados e tecnológicos para a cadeia de fornecimento de diversos setores) utilizam os serviços da Sinctronics.

Fonte: http://www.reportsustentabilidade.com.br/2013/?q=pt-br%2Fnode%2F376

Nenhum comentário:

Postar um comentário