Já havia passado das três da manhã quando o chef britânico Tom Kime chegou à área central da Cidade de Cingapura. A fome apertava, e ele estava louco para provar a culinária local. Não havia nenhum outro apaixonado por gastronomia para consultar — a única pessoa com quem interagiu no caminho ao hotel foi o motorista de táxi. “Qual é o melhor local para comer aqui a esta hora?”, Kime perguntou. O homem disse que o levaria ao lugar perfeito. O ponto escolhido foi uma barraca de comida de rua tão popular que Kime jura ter contado umas 300 pessoas sentadas às mesas improvisadas no local.
A convite do chef, o taxista sentou-se para comer, chamando à mesa cinco outros homens. A conversa seguiu madrugada adentro e terminou em uma doceria, com o taxista pagando guloseimas para que Kime conhecesse mais da cozinha de seu país. “Qual foi a última vez que um taxista pagou um doce para você? Essas são experiências únicas que só a comida de rua pode proporcionar”, diz ao Correio o chef, que visitou 14 países para escrever o livro Comidinhas de rua (Publifolha). “A culinária de rua é o coração pulsante de qualquer cultura. Ela te faz sentir a essência da comunidade”, defende.
Como Kime, muitos chefs têm se rendido a esses encantos da comida de rua. Cresce o número de títulos sobre o tema nas livrarias e sites com serviços e dicas. A modalidade é popular especialmente entre aqueles que gostam de viajar mas têm um orçamento apertado. Ou, ainda, entre pessoas que vivem tentando recriar um momento mágico vivido durante uma visita a este ou aquele canto do mundo. “Se eu estive em um lugar, mas meus amigos não, isso não significa que eles não possam também usufruir dessa experiência, pelo menos no que diz respeito à gastronomia. Cozinhar comida de rua em casa para as pessoas queridas é quase como mostrar fotos de um lugar que se visitou, é partilhar”, opina Kime. A maior vantagem? Em casa, é possível ter mais segurança quanto à higiene do prato e a frescura dos ingredientes.
Encontros informais
Constituídas em sua maior parte de petiscos, as comidas de rua são ideais para servir em um encontro despojado entre amigos, em que se deseja que todos circulem pela casa e fiquem a vontade. O menu, em geral, é fácil de preparar e pode incluir pratos de todos os cantos do mundo. Para aqueles que vivem em apartamentos pequenos e com poucas louças, esses pratos também são uma boa saída, por permitirem que os convidados comam com a mão ou usando guardanapos. “ A principal marca da comida de rua é a informalidade, todos ficam à vontade”, comenta a chef libanesa Anissa Helou, autora de Mediterranean street food (Comida de rua mediterrânea, William Morrow Cookbooks).
Quando criança, a mãe de Anissa sempre proibiu que ela comprasse alimentos na rua, por temer que a possível falta de higiene das barracas causasse doenças na filha. Quando foi capaz de tomar as próprias decisões, contudo, isso foi justamente uma das primeiras coisas que Anissa optou por fazer. “Desenvolvi uma paixão. É um jeito tão interessante de comer, conhecer a cultura de um país e entrar em contato com gente em um ambiente cheio de naturalidade. É na rua que as pessoas discutem os mais importantes temas da vida, como sua rotina, a política, os costumes. Em uma barraca, a barreira de classes entre o garçom e você não se impõe com tanta força quanto em um restaurante de luxo. Quando viajo a um novo destino, tento aproveitar essas oportunidades para conhecer mais profundamente a realidade daquele lugar”, conta.
Preparados em casa, esses alimentos perdem a magia da interação com os locais. Mas Anissa acredita que, mesmo assim, há muito o que aprender dessa culinária em qualquer ocasião, seja na cozinha doméstica, seja na dos restaurantes. “As receitas desenvolvidas pelos cozinheiros de rua têm uma sabedoria que se acumula por anos. Aquela pessoa faz aquele único prato pela vida inteira, domina completamente seu modo de preparo. Além disso, muitas dessas receitas passam de pai para filho, por gerações. Eles são verdadeiros mestres nisso”, argumenta ela. Ela acrescenta que arriscar-se a fazer algum desses aperitivos em casa pode ser a melhor maneira de se preparar para uma longa viagem a um lugar estranho e diminuir o choque com a comida local.
Um dos desafios de tais aventureiros pode ser encontrar ingredientes, já que cada clima e vegetação vai ofertar sua própria variedade deles. Nesses casos, chefs de cozinha recomendam que se recorra a mercados especializados, mas sem radicalização. Vale substituir um ingrediente ou dois por algo parecido que exista aqui no Brasil, por exemplo, trocando um tipo de pimenta por outro. A principal dica é tentar combinar a receita com os sabores de que você já gosta, provando também os gostos do outro lado do mundo.
Mexilhões recheados (Turquia) - receita da chef Anissa Helou
Ingredientes (para quatro porções):
4 colheres de sopa de azeite extravirgem
1 colher de sopa de pinhões triturados
2 cebolas pequenas bem picadas
1/2 copo de arroz de paella (ou outro tipo de arroz de grãos pequenos), que deve ficar de molho em água quente por alguns minutos
1 colher de sopa de uvas passas
1 e 1/2 colher de sopa de massa de tomate
1/4 de colher de chá de canela em pó
1/4 de colher de chá de pimenta da Jamaica
1/4 de colher de chá de páprica
1 pitada de pimenta-caiena
1 pitada de cravo em pó
1 colher de sopa de salsinha picada
1 colher de sopa de endro picado
sal a gosto
pimenta do reino a gosto
40 mexilhões grandes ou médios 1 colher de sopa de passa
Modo de preparo:
Coloque o óleo, a cebola e os pinhões em uma panela, mexendo ocasionalmente até dourar. Escorra o arroz e acrescente à mistura. Adicione as uvas passas, a massa de tomate, os temperos e água o suficiente para cobrir a mistura. Ligue o fogo. Quando levantar fervura, cozinhe em baixa temperatura (com a tampa fechada), por cerca de 10 minutos, ou até a água secar. Tire do fogo, enrole a tampa com um pano de cozinha e reserve até esfriar.
Para preparar os mexilhões, retire as rebarbas e lave-os em água fria corrente — não os deixe de molho, pois eles podem murchar. Coloque um mexilhão de cada vez em uma toalha de cozinha sobre sua superfície de trabalho. Insira a ponta de uma pequena faca afiada entre as conchas em uma ponta e deslize até a outra extremidade — o mexilhão deve abrir com facilidade, mas mantendo as duas metades anexadas. Não se apresse nessa parte da preparação: você pode quebrar as conchas ou se machucar com a faca.
Depois de abrir todos os mexilhões, recheie as conchas com mais ou menos uma colher de chá da mistura de arroz em cada uma. Feche-os bem e limpe o exterior. Coloque-o para cozinhar no vapor por cerca de 25 minutos. Depois, retire-os e deixe resfriar.
Sirva-os em temperatura ambiente, com limão. Podem ser um petisco entre outros ou uma bela entrada para um jantar especial.
Kebab b’il Karaz (Síria) - por Tom Kime
Ingredientes (para seis porções)
- 300g de ginjas (cerejas ácidas) secas — se tiver acesso à fruta in natura, ainda melhor
- 1 colher (sopa) de açúcar
- 1 colher (sopa) de melaço de romã
- suco de 1 limão
Para as almôndegas
- 2 dentes de alho cortados ao meio
- 2 pimentas-vermelhas secas bem picadas
- 2 colheres (chá) de coentro em pó
- 1 pitada de sal
- azeite a gosto
- 1 cebola bem picada
- 500g de carne de cordeiro moída
- 1/2 maço de salsa lisa fresca picada
- pimenta do reino a gosto
Modo de preparo
1. pimentaColoque as ginjas secas em uma panela. Adicione200ml de água, o açúcar e o melaço de romã. Ligue o fogo e espere levantar fervura. Em seguida, deixe cozinhar em fogo baixo por 30 minutos, até obter um molho espesso e viscoso. Adicione o suco de limão e prove, ajustando o sabor, se necessário (tenha em mente que as almôndegas devem ser salgadas e picantes)
2. Enquanto isso, faça as almôndegas. Esmague juntos os dentes de alho, a pimenta seca e o coentro em pó com uma pitada de sal até que eles se tornem uma pequena massa. Pré-aqueça uma panela com azeite, em fogo médio. Frite essa massa por cerca de 2 minutos, até que comece a liberar um aroma bom. Adicione a cebola e refogue por 4 minutos. Retire do fogo e acrescente a mistura à carne moída. Tempere com sal, salsa e pimenta do reino a gosto. Faça bolas do tamanho de um tomate cereja.
3. Frite as almôndegas em azeite de oliva em fogo médio, pré-aquecido. Retire-as quando estiverem de uma cor marrom-dourada e deixe-as repousar sobre um papel toalha (isso vai retirar um pouco do óleo). Em outra panela, coloque as almôndegas e as cubra com a calda de ginjas. Cozinhe por alguns minutos para misturar os dois sabores.
4. É ideal para servir como um de muitos pratos de petiscos ou como parte prato principal.
Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2012/03/01/interna_ciencia_saude,291498/comer-em-barraquinhas-de-ruas-e-uma-maneira-de-conhecer-novas-culturas.shtml
A convite do chef, o taxista sentou-se para comer, chamando à mesa cinco outros homens. A conversa seguiu madrugada adentro e terminou em uma doceria, com o taxista pagando guloseimas para que Kime conhecesse mais da cozinha de seu país. “Qual foi a última vez que um taxista pagou um doce para você? Essas são experiências únicas que só a comida de rua pode proporcionar”, diz ao Correio o chef, que visitou 14 países para escrever o livro Comidinhas de rua (Publifolha). “A culinária de rua é o coração pulsante de qualquer cultura. Ela te faz sentir a essência da comunidade”, defende.
Como Kime, muitos chefs têm se rendido a esses encantos da comida de rua. Cresce o número de títulos sobre o tema nas livrarias e sites com serviços e dicas. A modalidade é popular especialmente entre aqueles que gostam de viajar mas têm um orçamento apertado. Ou, ainda, entre pessoas que vivem tentando recriar um momento mágico vivido durante uma visita a este ou aquele canto do mundo. “Se eu estive em um lugar, mas meus amigos não, isso não significa que eles não possam também usufruir dessa experiência, pelo menos no que diz respeito à gastronomia. Cozinhar comida de rua em casa para as pessoas queridas é quase como mostrar fotos de um lugar que se visitou, é partilhar”, opina Kime. A maior vantagem? Em casa, é possível ter mais segurança quanto à higiene do prato e a frescura dos ingredientes.
Encontros informais
Constituídas em sua maior parte de petiscos, as comidas de rua são ideais para servir em um encontro despojado entre amigos, em que se deseja que todos circulem pela casa e fiquem a vontade. O menu, em geral, é fácil de preparar e pode incluir pratos de todos os cantos do mundo. Para aqueles que vivem em apartamentos pequenos e com poucas louças, esses pratos também são uma boa saída, por permitirem que os convidados comam com a mão ou usando guardanapos. “ A principal marca da comida de rua é a informalidade, todos ficam à vontade”, comenta a chef libanesa Anissa Helou, autora de Mediterranean street food (Comida de rua mediterrânea, William Morrow Cookbooks).
Quando criança, a mãe de Anissa sempre proibiu que ela comprasse alimentos na rua, por temer que a possível falta de higiene das barracas causasse doenças na filha. Quando foi capaz de tomar as próprias decisões, contudo, isso foi justamente uma das primeiras coisas que Anissa optou por fazer. “Desenvolvi uma paixão. É um jeito tão interessante de comer, conhecer a cultura de um país e entrar em contato com gente em um ambiente cheio de naturalidade. É na rua que as pessoas discutem os mais importantes temas da vida, como sua rotina, a política, os costumes. Em uma barraca, a barreira de classes entre o garçom e você não se impõe com tanta força quanto em um restaurante de luxo. Quando viajo a um novo destino, tento aproveitar essas oportunidades para conhecer mais profundamente a realidade daquele lugar”, conta.
Preparados em casa, esses alimentos perdem a magia da interação com os locais. Mas Anissa acredita que, mesmo assim, há muito o que aprender dessa culinária em qualquer ocasião, seja na cozinha doméstica, seja na dos restaurantes. “As receitas desenvolvidas pelos cozinheiros de rua têm uma sabedoria que se acumula por anos. Aquela pessoa faz aquele único prato pela vida inteira, domina completamente seu modo de preparo. Além disso, muitas dessas receitas passam de pai para filho, por gerações. Eles são verdadeiros mestres nisso”, argumenta ela. Ela acrescenta que arriscar-se a fazer algum desses aperitivos em casa pode ser a melhor maneira de se preparar para uma longa viagem a um lugar estranho e diminuir o choque com a comida local.
Um dos desafios de tais aventureiros pode ser encontrar ingredientes, já que cada clima e vegetação vai ofertar sua própria variedade deles. Nesses casos, chefs de cozinha recomendam que se recorra a mercados especializados, mas sem radicalização. Vale substituir um ingrediente ou dois por algo parecido que exista aqui no Brasil, por exemplo, trocando um tipo de pimenta por outro. A principal dica é tentar combinar a receita com os sabores de que você já gosta, provando também os gostos do outro lado do mundo.
Mexilhões recheados (Turquia) - receita da chef Anissa Helou
Ingredientes (para quatro porções):
4 colheres de sopa de azeite extravirgem
1 colher de sopa de pinhões triturados
2 cebolas pequenas bem picadas
1/2 copo de arroz de paella (ou outro tipo de arroz de grãos pequenos), que deve ficar de molho em água quente por alguns minutos
1 colher de sopa de uvas passas
1 e 1/2 colher de sopa de massa de tomate
1/4 de colher de chá de canela em pó
1/4 de colher de chá de pimenta da Jamaica
1/4 de colher de chá de páprica
1 pitada de pimenta-caiena
1 pitada de cravo em pó
1 colher de sopa de salsinha picada
1 colher de sopa de endro picado
sal a gosto
pimenta do reino a gosto
40 mexilhões grandes ou médios 1 colher de sopa de passa
Modo de preparo:
Coloque o óleo, a cebola e os pinhões em uma panela, mexendo ocasionalmente até dourar. Escorra o arroz e acrescente à mistura. Adicione as uvas passas, a massa de tomate, os temperos e água o suficiente para cobrir a mistura. Ligue o fogo. Quando levantar fervura, cozinhe em baixa temperatura (com a tampa fechada), por cerca de 10 minutos, ou até a água secar. Tire do fogo, enrole a tampa com um pano de cozinha e reserve até esfriar.
Para preparar os mexilhões, retire as rebarbas e lave-os em água fria corrente — não os deixe de molho, pois eles podem murchar. Coloque um mexilhão de cada vez em uma toalha de cozinha sobre sua superfície de trabalho. Insira a ponta de uma pequena faca afiada entre as conchas em uma ponta e deslize até a outra extremidade — o mexilhão deve abrir com facilidade, mas mantendo as duas metades anexadas. Não se apresse nessa parte da preparação: você pode quebrar as conchas ou se machucar com a faca.
Depois de abrir todos os mexilhões, recheie as conchas com mais ou menos uma colher de chá da mistura de arroz em cada uma. Feche-os bem e limpe o exterior. Coloque-o para cozinhar no vapor por cerca de 25 minutos. Depois, retire-os e deixe resfriar.
Sirva-os em temperatura ambiente, com limão. Podem ser um petisco entre outros ou uma bela entrada para um jantar especial.
Kebab b’il Karaz (Síria) - por Tom Kime
Ingredientes (para seis porções)
- 300g de ginjas (cerejas ácidas) secas — se tiver acesso à fruta in natura, ainda melhor
- 1 colher (sopa) de açúcar
- 1 colher (sopa) de melaço de romã
- suco de 1 limão
Para as almôndegas
- 2 dentes de alho cortados ao meio
- 2 pimentas-vermelhas secas bem picadas
- 2 colheres (chá) de coentro em pó
- 1 pitada de sal
- azeite a gosto
- 1 cebola bem picada
- 500g de carne de cordeiro moída
- 1/2 maço de salsa lisa fresca picada
- pimenta do reino a gosto
Modo de preparo
1. pimentaColoque as ginjas secas em uma panela. Adicione200ml de água, o açúcar e o melaço de romã. Ligue o fogo e espere levantar fervura. Em seguida, deixe cozinhar em fogo baixo por 30 minutos, até obter um molho espesso e viscoso. Adicione o suco de limão e prove, ajustando o sabor, se necessário (tenha em mente que as almôndegas devem ser salgadas e picantes)
2. Enquanto isso, faça as almôndegas. Esmague juntos os dentes de alho, a pimenta seca e o coentro em pó com uma pitada de sal até que eles se tornem uma pequena massa. Pré-aqueça uma panela com azeite, em fogo médio. Frite essa massa por cerca de 2 minutos, até que comece a liberar um aroma bom. Adicione a cebola e refogue por 4 minutos. Retire do fogo e acrescente a mistura à carne moída. Tempere com sal, salsa e pimenta do reino a gosto. Faça bolas do tamanho de um tomate cereja.
3. Frite as almôndegas em azeite de oliva em fogo médio, pré-aquecido. Retire-as quando estiverem de uma cor marrom-dourada e deixe-as repousar sobre um papel toalha (isso vai retirar um pouco do óleo). Em outra panela, coloque as almôndegas e as cubra com a calda de ginjas. Cozinhe por alguns minutos para misturar os dois sabores.
4. É ideal para servir como um de muitos pratos de petiscos ou como parte prato principal.
Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2012/03/01/interna_ciencia_saude,291498/comer-em-barraquinhas-de-ruas-e-uma-maneira-de-conhecer-novas-culturas.shtml
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